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Conheça o artista alagoano Pedro Lucena


Foto: Divulgação

De todos seus trabalhos, o que mais lhe dá orgulho é ‘Ciscos’, uma exposição que foi

apresentada em Portugal e Maceió. O artista conta que não acredita em inspiração na

hora de fazer seus trabalhos, mas, que acredita somente em transpiração. Ele tem

vários projetos para o futuro, como o de lançar uma coleção de colares, pulseiras e

brincos, com seus desenhos, até o final do ano. Dos vários conselhos para quem quer

iniciar a carreira de artista, ele conta que primeiro a pessoa deve estar aberta as

críticas. “Esteja aberto as críticas, não seja um ‘idiota’, que não escuta as críticas, mas

saiba filtrar essas críticas”, disse.

Filho de José Lucena de Araújo e Maria Aparecida de Melo Lucena, Pedro Lucena, 34,

é alagoano, natural de Maceió, onde vive e trabalha. O desenho entrou em sua vida

desde muito pequeno, quando começou a desenhar, mas depois da escola cursou

Direito, onde não seguiu carreira. No entrelaçar da entrevista, ele conta sobre sua

verdadeira paixão pela arte e como iniciou sua trajetória artística.

Foi no ano de 2006, após uma viagem à Amazônia que Lucena percebeu que deveria

fazer algo para mudar sua vida em relação ao seu amor pelas ilustrações, desenhos e

arte. “Foi o despertar, primeiro o encontro que você tem com à Amazônia, quando eu

falo Amazônia, eu falo os grandes acontecimentos naturais”, afirmou o artista.

A partir de então, ele coleciona inúmeras vitórias nesta área. Publicou em revistas de

renomes nacionais e estrangeiras, como Saúde é Vital, Metrópole, Zupi, Encontro

Unilever, Prana Yoga Journal, A5 Magazine, Pagesoline, dentre outras. Também fez

ilustrações para livros infantis publicados pelo selo Passarada e pela Editora Cortez.

Sua primeira exposição individual foi a ‘Ars Liberat’, em 2008 e a segunda foi ‘Ciscos’,

exposta primeiro em Portugal, em novembro de 2011 e, no ano seguinte foi remontada na pinacoteca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

KEILA BACHOT: Conte um pouco sobre sua trajetória. Como você chegou a tornar-se

um artista visual? Foi uma coisa que você sempre quis fazer desde criança, ou foi

acontecendo?

PEDRO LUCENA: Eu sempre gostei de desenhar, mas ser artista mesmo, eu nunca

pensei, veio depois, veio bem depois. Eu me formei em direito, antes de sair da

universidade eu estava trabalhando, eu fazia algumas coisas assim, poucas, mas fazia.

Foi uma coisa que foi acontecendo, ainda está acontecendo, na verdade.

Você se define como ilustrador ou artista visual?

Eu prefiro me dominar como artista visual, ou também como artista gráfico. Eu me

enquadraria, colocaria mais como gráfico, só que o gráfico acaba limitando, enquanto

que o visual não; com o visual eu posso trabalhar com os desenhos em qualquer

suporte e outras linguagens também, que é o que me interessa.

O tempo que você esteve na Amazônia foi muito importante para o despertar da

arte em sua vida. Como isso aconteceu?

Eu fui pra Amazônia trabalhar com uma aluna minha, que era pesquisadora da

Universidade Cornell, em Ithaca, no estado de Nova Iorque, e eu fui para fazer um

trabalho meio que de assistente dela. Foi o despertar, primeiro o encontro que você

tem com à Amazônia, quando eu falo Amazônia, eu falo os grandes acontecimentos

naturais, poderia ser, sei lá, uma reserva Yosemite, por exemplo lá nos Estados Unidos,

que deve ser uma coisa deslumbrante, ou o deserto do Kalahari, o Saara, ou seja, você

se deparar com essas vastidões, essas imensidões da natureza; Savana, por exemplo,

outra coisa que deve ser espetacular, acho que essas coisas mechem com a gente, elas

despertam o que há de melhor e o que também há de pior. Mas, foi muito importante

sim, foi lá que eu percebi que não só os meus amigos gostavam, como outras pessoas

gostavam do meu trabalho, eu vi que eu podia ganhar dinheiro, porque eu acabei

fazendo alguns desenhos para uma cartilha de preservação de quelônios. Foi isso, foi

libertador, na verdade, essa viagem.

Você teve um momento “X” na sua carreira, que ajudou a defini-la? Um encontro

com um mentor, uma obra específica que fez muito sucesso e ajudou a alçar voo?

Seu Fotolog, ajudou nesse processo de tornar seu trabalho conhecido?

Eu tenho alguns trabalhos, não tive um mentor, então eu não tive um mentor, eu tive

assim, algumas pessoas que me assessoram, que me ajudam, que me dão ideias, mas

mentor não. Uma obra específica que fez sucesso? Não necessariamente. O meu

Fotolog era um lugar muito bem frequentado assim, eu fiz muitos contatos, com

muitos artistas de vários lugares, na verdade eu fiz o meu primeiro trabalho através do

Fotolog, com a design do Rio de Janeiro, a Mariana Esbérard, até hoje eu tenho

contato com ela. Foi um momento bem bacana, mas eu nunca tive mentor, ou assim,

um desenho ou ilustração, ou uma arte minha, que fosse específica, que fez muito

sucesso, algumas várias, fazem, fizeram bastante sucesso, mas não necessariamente

uma.

Como é seu processo criativo? O que te inspira?

Então, eu não acredito em inspiração, eu acho que, eu acredito mais em transpiração,

(risos), na verdade eu acredito só em transpiração. Existem momentos que te

inspiram, que te dão ideias, talvez nem inspirar, mas te dão ideias. Uma visita pela

Pinacoteca do estado de São Paulo, por exemplo, é uma coisa maravilhosa né?! Eu

gosto mais da Pinacoteca, por exemplo, do que do Masp. Mas, eu acredito na verdade

em sentar a ‘bunda’ na cadeira e começar a produzir, esse é meu processo criativo

basicamente, eu também me cerco muito de imagens, eu gosto muito de imagens,

referências, essas coisas fazem parte do meu processo criativo. Imagens, as referências

que me dão, se é um trabalho que eu preciso me acercar de ideias. Mas, basicamente

isso, imagens, sentar a bunda na cadeira e trabalhar.

Arte: Pedro Lucena

Quais técnicas você utiliza?

Nossa, eu utilizo muita, eu gosto muito de nanquim, passei muito tempo trabalhando

com nanquim sobre papel. Eu só uso papel, não uso tela, papel bom, papel italiano

geralmente, de gramatura boa, que não oxida com o tempo, é uma preocupação

minha. E as técnicas eu vario muito, eu uso aquarela, uso lápis de cor aquarelável, que

mais? Lápis de cor, tinta acrílica também, bastante nanquim. Basicamente é o que eu

uso, eu não uso óleo, eu não trabalho com tinta óleo.

Quais são suas "preocupações" quando você está criando uma ilustração? Que

características você considera que uma boa ilustração deve ter?

Olhe, preocupações (risos), na verdade eu não posso ter preocupações quando eu

estou fazendo uma ilustração, ela tem que sair realmente com o propósito que ela

precisa ter. Eu acho que uma boa ilustração acima de tudo, acima de qualquer coisa,

ela tem que encantar dois meses depois que você a faz, três, quatro, um ano depois

que você cria uma ilustração, se ela te deixa maravilhado quando você olha para ela,

se ela te encanta, ela já tem muitos pontos a favor dela. Eu acho que basicamente, a

ilustração é essa, é um desenho que não se perde com o tempo, só melhora, eu acho

que isso é uma característica primordial para uma boa ilustração.

Qual sua relação com a natureza e com o comum do dia a dia na hora de fazer suas

ilustrações?

A minha relação com a natureza é muito profunda. O artista eu acredito que, eu falo

por mim, a gente acaba se ligando em detalhes, muitos detalhes em que as pessoas

não ligam, as pessoas não observam, isso é uma característica forte do artista. Então

assim, algumas coisas diárias, cotidianas, elas entram com uma relevância bem grande

no trabalho do artista, depende também é claro, do ponto que o artista, do

seguimento que artista aborda, do tema especificamente que ele adota. Mas eu gosto

muito de observar essa coisa do cotidiano, e a natureza tem um papel muito forte, ela

está muito presente no meu trabalho, de muitas formas, eu tenho essa relação de

buscas de elementos na natureza, isso é muito notório no meu trabalho.

Que outros ilustradores e artistas, brasileiros ou não, inspiram você ou despertam

sua admiração?

Nossa, eu tenho uma lista gigante de ilustradores, mas assim, tem o Renato Moriconi,

que é maravilhoso, tem a Ionit Zilberman, que é uma maravilhosa também, eu gosto

muito dela. Tem o Chalten, que eu amo o trabalho desse cara, é um australiano, tem

um cara também francês que eu gosto muito, na verdade dois franceses que eu gosto

muito, a Rebecca Dautremer e o Benjamin Lacombe. Mas há muitos outros, muitos

outros, só para começar né. Os artistas que eu gosto muito também, o próprio Delson

Uchoa que é daqui; a Adriana Varejão, que é do Rio de Janeiro, tem o Jonathas de

Andrade, que são trabalhos de arte contemporânea. O Alexandre Mury, que tem um

trabalho bem interessante, a Renata Lucas, que é uma paulistana com um trabalho

fantástico, que eu adoro. Nossa (respira fundo), muita gente né?! Tem muitas pessoas,

fica difícil agora de lembrar e de passar, mas basicamente assim, esses são os que eu

lembro de cabeça e que eu gosto muito.

Qual seu trabalho que você sente mais orgulho? Por que?

Nossa, têm muitos trabalhos. Tem uma série de desenhos que eu chamo de ‘eu amo

bichinho de estimação’, que nunca vai envelhecer, que é maravilhosa. Tem também

uma série de mulheres tatuadas que eu gosto muito. Ah, talvez o que eu mais me

orgulho seja ‘Ciscos’, para a gente realmente falar de Top One, eu acho que Ciscos é o

trabalho que eu mais me orgulho assim, porque foi uma referência, foi um divisor de

águas na minha vida artística, as pessoas também lembram muito de Ciscos na cidade,

por conta da exposição que foi grandiosa. Acho que Ciscos é o trabalho que eu mais

me orgulho assim.

Que tipo de trabalho mais te satisfaz?

Caramba, olhe só, o trabalho que mais me satisfaz é aquele onde eu sou deixado bem

à vontade, que é me dado muito liberdade, esse é o trabalho que me satisfaz.

Como foi ilustrar livros? Você já havia pensado nessa possibilidade, antes de receber

convites?

Foi legal, foi divertido. Não é um trabalho fácil, é um trabalho bem extenuante, mas eu

já tinha pensado sim, antes de receber convites. Não é fácil, ilustração não é fácil, mas

é bem satisfatório quando você vê o livro produzido, as ilustrações feitas, é bem legal.

Em 2008 você fez sua primeira exposição, “Ars Liberat”, em Maceió e 2011 você

apresentou sua segunda exposição ‘Ciscos’, em Portugal e, logo no ano seguinte em

Maceió.

Como esses trabalhos marcaram sua carreira de ilustrador? E os que o

tornam singular um do outro?

Ars Liberat, eu chamo de o ‘samba do criolo doido’, foi a minha necessidade de expor,

eu precisava expor, as pessoas estavam cobrando isso de mim e, foi bem isso assim, foi

um desafio, era a minha primeira exposição, eu tinha uma curadora, uma curadora

ótima, uma figura maravilhosa que eu amo, minha amiga Carol Gusmão, ela diz que eu

e Renata Voss somos artistas que não precisam de curador, precisamos sim, mas eu já

tinha tudo muito certinho na minha cabeça, antes da exposição tomar forma e tudo.

Mas, foi meu ‘samba de criolo doido’, é a primeira, eu misturava tanta coisa, tanta

coisa, meu Deus do céu, mas assim, ficou coesa, ela já trazia algumas coisas de ‘Ciscos’,

já tinha Ilha do Ferro no meio, mas ‘Ciscos’ foi sublime, os desenhos eram incríveis, a

ambientação foi maravilhosa, em Portugal não foi tão ‘assim’, como foi aqui não, aqui

foi uma coisa impressionante, a moldagem da Pinacoteca foi algo memorável até hoje,

as pessoas lembram da exposição com muito amor e carinho. Mas, eu acredito que na

primeira exposição eu ainda estava muito verdinho, em ‘Ciscos’ eu já tinha

amadurecido bastante como artista, quer dizer, tinha amadurecido, mas eu ainda

estou amadurecendo.

Quais seriam as parcerias dos seus sonhos?

Nossa, se acontecesse uma na minha vida eu já seria muito feliz, que é trabalhar com o

Ronaldo Fraga, eu morro de vontade de trabalhar com o Ronaldo Fraga, eu acho que

essa seria uma ‘puta’ parceria.

Você tem algum outro projeto? Se sim, quais?

Tenho vários projetos, até o final do ano eu estou lançando uma série de colares,

pulseiras, brincos, com desenhos meus, em parceria com uma design maravilhosa, que

é daqui de Maceió, mas que mora em BH [Belo Horizonte], Mayara Leão. E, uma

exposição para o ano que vem, que possivelmente irá se chamar ‘Nossas vidas estão

cheias de paixão e morte’, que conta minha versão de chapeuzinho vermelho e tem as

tatuagens que eu tenho feito bastante. Basicamente são esses os projetos, com

certeza outros virão.

Que conselhos você daria para quem está começando nessa carreira?

Nossa, vários conselhos. Primeiro, esteja aberto as críticas, não seja um ‘idiota’, que

não escuta as críticas, mas saiba filtrar essas críticas. Trabalhe pra caramba, não se

apadrinhe, acredite no seu talento, acho que isso é muito importante. Se apadrinhar,

assim, depende também, o apadrinhamento não é de todo ruim, mas você depender

de alguém, para que uma pessoa promova seu trabalho, isso não é legal, não acho tão

interessante. Conheça outros artistas, veja o que as outras pessoas estão fazendo, eu

acho que isso é bem legal também.


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