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Poesia, Café & Tapioca

No Brasil, a literatura floresceu em solo fértil e nos deu grandes nomes de escritores, como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Cecília Meireles. Agora, centenas de jovens, adultos e crianças trilham um caminho parecido com o deles, e o que os motivam é o amor pela escrita.

É o caso do alagoano Cícero Manoel, 26, natural da cidade de Santana do Mundaú. Apaixonado pela literatura de cordel, começou a escrever aos 16 anos. Seu primeiro livro do gênero, Versos de um cordelista, reúne histórias inéditas e algumas que foram publicadas em folhetos contam causos do cotidiano do Nordeste.

Capa de alguns dos cordéis de Cícero Manoel (Foto: Divulgação)

Responsável pela produção artesanal das histórias, desenhos e livretos, no modelo dos livros de cordel comercializados em feiras livres do Nordeste, Cícero Manoel expõe que a publicação de um livro produzido em uma gráfica é uma oportunidade que poucos cordelistas alcançaram.

Ele conta que fazer literatura no Nordeste exige um grande esforço e, que quando a produção se trata de cordel a dedicação precisa ser ainda maior. “Depois do avanço da tecnologia a literatura de cordel vem desaparecendo dos espaços públicos que se fazia presente. A exemplo de feiras e praças, mas nunca pensei em desistir desse meu amor pelo cordel”, diz.

Segundo ele, para o livro Versos de um cordelista foram reunidas histórias que possuem

relação direta com a cultura popular do interior de Alagoas. “Entre as histórias 'causos' estão relatos de humor e críticas que fazem um resgate da cultura popular, mostrando um pouco do cotidiano do interior do Nordeste”, completa. Publicado pela editora Viva, o livro foi comercializado no campus V da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), em União dos Palmares.

A dificuldade de ser um cordelista

A literatura de cordel é um tipo de poesia popular que é impressa e divulgada em folhetos

ilustrados com o processo de xilogravura. Também são utilizados desenhos e clichês zincografados.

A técnica chegou ao Brasil no século XVIII, através dos portugueses e, aos poucos foi

se tornando cada vez mais popular. Ganhou este nome pois, em Portugal, eram expostos

ao povo amarrados em cordões, estendidos e pequenas lojas de mercador populares ou

nas ruas. Atualmente esse tipo de literatura é encontrada mais em cidades do interior do

Nordeste, mas, sua popularidade não é tão ativa como antes.

Para Cícero Manoel, que começou a escrever cordel sem saber o que era cordel, esse tipo

de escrita ainda é pouco conhecida, tanto nas capitais, como nos interiores. “Falta valores

dessa arte no nosso estado, nós cordelistas deveríamos ter mais apoio, ser mais

valorizados, por parte das organizações governamentais do estado. O cordel só é mais conhecido no espaço escolar e na maioria das vezes só no período junino, quando a cultura

nordestina recebe maior enfoque”, declarou.

Apesar do pouco incentivo, Manoel já tem vários cordéis publicados, como A mulher que

capou o marido; A mulher que morreu quando viu o marido nu; O cangaceiro que morreu

em União dos Palmares; Relato da enchente de 2010 em Santana do Mundaú e, O viajante

cantador e a moça que não sorria.

Outro alagoano que é apaixonado pela literatura, é o estudante de filosofia Anobelino

Martins, 24, natural de São Luís do Quitunde. Ele já lançou três livros, o primeiro, Só amar

em versos fala sobre o amor através da poesia; o segundo, Corações ao Alto, um relato

poético sobre sua visão real do sagrado no seu contato com elementos da fé dentro de um

tempo e de um templo católico; o terceiro, Os segredos da infância, é uma parceria com

seu amigo também escritor, Luiz Cleysson, é uma série de enredos vividos por ambos em

determinados momentos de suas infâncias.

Anobelino Martins no lançamento do seu terceiro livro, ‘Os segredos da infância’ (Foto: Divulgação)

Anobelino, que além de escritor, poeta, compositor e ambientalista, se considera um

amante da vida, responde a algumas perguntas sobre essa sua relação com a escrita. Confira abaixo a entrevista com o alagoano:

KEILA BACHOT: Com quantos anos você começou a escrever?

ANOBELINO MARTINS: Antes mesmo de saber ler e escrever eu já formulava enredos na

cabeça. Claro, devem ser levados em consideração os desajustes na lógica e a originalidade das histórias formuladas, mas isso era só o começo. Escrevo desde muito cedo, ainda muito pequeno me aventurei em tentar juntar as palavras e formar pequenas histórias, poemas e reflexões.

Nas aulas de redação sempre tirava as melhores notas, por isso era muito elogiado pelos professores. Isso despertava certo ciúme de alguns colegas de classe, mas despertou mais ainda a minha sede de ir mais além e de escrever sem parar. Escrevia histórias e colocava como personagens os meus colegas, eles liam e riam bastante dos textos, que sempre tinham um toque de humor.

Minha “fama” na escola passou a ser tão grande que muitos já me chamavam de escritor ou perguntavam quando que iriam ser publicados meus livros.

KB: Para você o que significa escrever? É um hobby ou mais que isso?

AM: Para mim, escrever não é um hobby, tão pouco um trabalho ou obrigação. Para mim, escrever é vida, é a via que eu preciso trilhar para poder me realizar como pessoa. Eu não me moldei escritor, não escolhi claramente isso, não passei por um teste vocacional para saber o que eu queria. Pelo contrário, isso já estava em mim e o meu ser clamava por uma folha e um lápis, por isso sempre “roubava” as folhas dos cadernos dos meus irmãos mais velhos para fazer o que eu mais gostava. Eu não me fiz escritor, eu nasci assim, e assim eu me realizo. O que significa escrever? Bem, escrever significa realização!

KB: Você sonha se tornar um escritor famoso?

AM: Não. Aprendi com a filosofia de Spinoza a não esperar muita coisa da vida. Vou explicar. Minha realização como escritor é simples, ser lido. Se eu escrevo é para que as pessoas leiam. Claro que se eu chegar a ser um escritor bem conhecido essa realização será em grande escala, mas não espero isso, se chegar a acontecer é consequência. O importante mesmo é ser lido, não importante a quantidade de pessoas, ser lido, mesmo que seja por uma única pessoa, já realiza meu objetivo de escrever e fortalece o desejo de continuar escrevendo.

KB: Pretende lançar algum livro ainda este ano?

AM: Meu próximo livro será publicado em breve, mas ainda não tenho previsão. Serão

poesias nordestinas, trazendo uma mensagem de amor e esperança através dos

recursos linguísticos. O tema do livro, eu já posso dizer, será: Poesia, Café & Tapioca.

Será lançado em breve. Aguardem.

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